NÚCLEO DE ANTIGOS-ALUNOS DO COLÉGIO SANTO INÁCIO
Rua São Clemente 226 / 22260-000 Rio de Janeiro - RJ / BRASIL tel. (21)2537-8646 / fax (21)2266-5367 "âncora": Prof.Vicente Paim |
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publicadas em 1999
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dezembro/2000
Colégio Santo Inácio. Como será que me lembro de você? Fecho os olhos e fico a imaginar, relembrar, recordar. Tantas foram as alegrias, emoções, decepções, que tudo se transforma em um só sentimento: saudade. Saudade que me mantém, até hoje, lutando contra faculdade e trabalho, a fim de encontrar o tempo necessário para visitá-lo, visitar as pessoas que contribuíram tanto para minha formação. Otávio Saraiva Padilha Velasco, ex-aluno de 1996
A maior prova da marca que o CSI deixou estampada em minha vida, com certeza, são as amizades. Já estou há quatro anos cursando a faculdade de Direito e, por incrível que ossa parecer, meus grandes amigos, aqueles nos quais confio e preciso por perto, são os que fiz durante o tempo de Santo Inácio. Foram laços tão precisamente amarrados que, apesar do distanciamento, diferentes escolhas, diferentes ideais, não serão desatados tão cedo... se é que um dia serão. Não citarei nomes porque, certamente, serei injusto com um ou outro. Mas posso garantir que são amigos que participaram e participam intensamente de minha vida. Histórias e recordações são milhares. Algumas confidenciais como "matança" de aulas, brincadeiras com professores etc. Outras ocorreram durante viagens a eventos esportivos (inter-colegiais) e a Casa de Corrêas. Mas vou discorrer aqui sobre uma história que ocorreu dentro do próprio colégio. História que, apesar da irreverência e características revolucionárias e inovadoras, foi "levada na esportiva" pelos coordenadores. Não era um dia qualquer. Era um dia de final de campeonato entre turmas. Lembro-me bem que quem mais sofria nestes dias eram os professores cujas aulas eram antes ou depois do recreio. Os primeiros não conseguiam controlar as aulas devido a intensa agitação que tomava conta dos alunos, sedentos pela hora da "liberdade". Já os outros professores podiam ter a certeza de que a aula atrasaria por, pelo menos, quinze minutos. Neste dia, minha turma, mais uma vez, era uma das finalistas e nós não queríamos que fosse mais uma daquelas finais comuns. Era necessário um plano e , após uma rápida reunião entre os homens da turma, a decisão estava tomada. Ficou acertado que o time entraria em campo de mãos dadas e, durante esta entrada dos jogadores, os outros alunos, escondidos perto da piscina, soltariam fogos de artifício. Só nossa turma sabia do plano, mais ninguém. Tudo ocorreu como o previsto, foi lindo! A arquibancada estava lotada como em todas as finais. Todos estavam sentados comendo a famosa dupla inseparável - "cheese e coca" -, enquanto esperavam, apenas, por mais uma final comum de campeonato. Porém ao observar nosso time entrando em campo de mãos dadas, a arquibancada já se inquietou com a perspectiva de novidade no ar e, ao som do primeiro pipocar dos fogos, os alunos-torcedores, surpresos com a novidade e felizes com a oportunidade de participar de uma "baguncinha", se levantaram e começaram a gritar e aplaudir... foi inesquecível! Após o jogo, nós jogadores, notamos que nossos comparsas fogueteiros não estavam mais presentes no recreio. Conclusão geral: "Pegaram eles". Subimos unidos, ainda com o uniforme do jogo, para assumirmos junto com eles a responsabilidade das festividades. Pra gente era festa e não um ato de rebeldia. Chegamos a coordenação e, tensos, começamos a explicar tudo. Após a explicação ficamos esperando pelo veredicto final. Todos davam a suspensão como certa. Já estavamos discutindo e relatando quais as desculpas que seriam apresentadas em casa. E, finalmente, no auge de nosso nervosismo, a coordenadora resolveu se pronunciar: - Adorei! Foi muito criativo! Mas custava terem nos comunicado antes? Da próxima vez vocês já sabem, nos avisem. E foi só pessoal... novembro/2000 Othon do Amaral Henriques Filho
ex-aluno de 1938 Eu e mais uns poucos somos os sobreviventes da turma de 63 formandos dos idos de 1938 - já que estamos comemorando os quinhentões de nossa querida "Brasilis", por que não uma pequena lembrança dos velhos tempos desse templo do ensino que é o nosso sempre recordado Colégio Santo Ignácio - com "g", sim, embora não soante!
outubro/2000
Paula Vasconcellos Saraiva
ex-aluna de 1987 Já se passou algum tempo. O vento rasgou minha memória e calmo foi descansar no começo dos anos oitenta - ano de mil novecentos e oitenta, talvez oiitenta e um. Tinha completado dez ou onze anos, não me lembro exatamente. O que me é impossível qualquer esquecimento é o sentimnento eufórico que sentíamos nas proximidades da festa. Sim, antes de tudo a FESOI para nós significava um grande dia de festa, e como todas, uma das melhores coisas era também a espera por ela de fato acontecer. O antes-FESOI eram dias de muitas, muitas rifas (infelizmente nunca as ganhei), expectativas de quem ou mais precisamente qual a nossa paquera que iria à festa, quantos correios-elegantes ganharíamos (ah! prazer inesquecível é receber um correio-elegante sem assinatura! quem foi?!) e dormir cedo na véspera para aproveitarmos o passeio de bicicleta na São Clemente. O dia da festa. Uma multidão ia tomando conta da nossa escola, barraquinhas, muitas barraquinhas misturando odores - churrasquinho, pé-de-moleque, salsichão... - e pessoas querendo se divertir. Luzes da tarde, pescaria, azaração, muitos sentimentos me ocorrem num furacão de boas lembranças. Depois da festa. Hoje, aos trinta anos, percebo a FESOI com outros olhos. Olhos que reparam o bem social que esta festa representa na forma de assistênca para ambulatórios, creches e outras obras dependentes da alegria deste dia. Hoje tiro o véu da alegria adolescente e valorizo também a grande contribuição social que o Colégio Santo Inácio proporciona para a comunidade carente. Mais que um dia de festa, a FESOI, enquanto existir, será um dia para se construir um mundo melhor. setembro/2000
Bruno F. Reis Malburg - ex-aluno de 1969
Na década de sessenta, o último andar à direita do pátio interno do Colégio era ocupado pela Clausura, onde moravam os padres. Os alunos não tinham acesso àquela área, que era fechada por uma divisória de madeira escura, com uma plaquinha de metal pintada de branco com letras azuis " CLAUSURA " . A única visão que tínhamos dali era a partir dos corredores do lado oposto do pátio, de onde ás vezes se podia ver um ou outro padre passando, normalmente de breviário à mão, fazendo suas orações diárias. Como as regras flexibilizadoras do Concílio Vaticano II ainda não vigoravam, os padres usavam batina. No caso dos Jesuítas, a tradicional, bonita em sua sobriedade, longa, com a faixa larga na cintura que dobrava e descia verticalmente até abaixo da altura do joelho. Havia duas cores, preta e creme, e eu sempre tive curiosidade em saber se, como para os militares já que Santo Inácio era um soldado, havia dias em que se devia usar uma ou outra cor. Se havia esta regra, seguramente não era rígida, pois se notava preferências diferentes entre os padres do Santo Inácio: os Padres Chaves e Leme Lopes raramente usavam a preta, enquanto que os Padres Van Bergen, Viveiros, Rocha, Dainese e Theyuss dificilmente eram vistos com a batina clara. O Padre Theyuss nessa época já não lecionava mais. Tinha sido professor de Física de várias gerações nos anos 40 e 50. Ouvi dizer inclusive que era rigoroso. Minha geração, entretanto, só o conheceu como confessor. Um dos mais idosos, acho mesmo que era "o" mais velho dentre os padres que moravam no Colégio à época, o padre Theyuss era um dos que eu via mais freqüentemente, ao olhar curioso para o misterioso corredor da Clausura. Acho que ele só saía de lá às sextas-feiras, quando havia confissão na igreja onde ocupava, se não me engano, o penúltimo confessionário do lado direito. Sim porque cada confessionário tinha uma tabuletinha no topo, com a nome do padre que ouvia confissões ali, sinalização que era rigorosamente respeitada, pois mesmo que todos os outros estivessem vazios, cada padre só confessava em seu próprio confessionário. Nestes dias de confissões, todas as Divisões (conjunto de Turmas de uma mesma Série), cada uma num horário, enviavam seus alunos à Confissão na igreja, onde os padres já estavam esperando. Cada aluno escolhia o padre de sua preferência, e entrava na fila formada no banco da igreja à frente do confessionário escolhido. O Padre Theyuss sempre chegava um pouco atrasado, apoiando-se em sua bengala. Mesmo assim, sempre tinha fregueses em sua fila aguardando-o fielmente. Sua fila não era das maiores, mas a fidelidade dos clientes era devida ao estilo sui-generis com que ministrava o sacramento. A idade fazia sentir seus efeitos no velho padre, principalmente em sua audição, dos cinco sentidos o único realmente necessário ao confessor. Ao acomodar-se no confessionário, ele batia estrepitosamente a porta, já provocando um acesso de riso nos nem sempre muito contritos alunos que esperavam em sua fila, e nas outras próximas. Em seguida ele abria a portinhola deslizante que fechava a grade do lado de um dos confessandos (havia genuflexórios de ambos os lados, e o confessor ouvia alternadamente os penitentes, ora o de um lado ora o do outro) também com o mesmo estrondo, assustando o sujeito que já estava ajoelhado e que, não fosse ele um "habitué" do estilo Theyuss, já perdia completamente o fio da meada, e não sabia mais por onde começar. Outro ataque de risos. E a cena se repetia a cada vez que ele trocava de lado. Mas o Padre Theyuss tinha um modo todo particular de tornar as coisas claras e objetivas, mesmo para os neófitos assustados. Após o susto com a abertura da portinhola, o confessando recebia de chofre a pergunta feita por ele em voz alta e que era ouvida por todos num raio de vários metros: "Matou ? Roubou ?" . E após ouvir a resposta assustada: "Não seu Padre !" . Devolvia incontinenti: "Então o que é que está fazendo aqui ?" Desnecessário é dizer que a fila dos confessandos do Padre Theyuss era composta pela fina flor dos colegas que recebiam as piores notas em "COMPORTAMENTO" (o boletim mensal que vinha na Caderneta Escolar tinha uma nota específica para este item). O mais engraçado, entretanto era a saída estratégica, magistralmente executada pelo Padre Theyuss. Subitamente, tendo estabelecido, através de algum critério só seu (que podia muito bem ser o nível de chatice dos pecados ouvidos, ou a repetitividade monótona destes), haver cumprido sua missão de confessor por aquele dia, o veterano padre levantava-se sorrateiramente, abria a porta do confessionário com todo o cuidado e, vendo as pernas do aluno que esperava ajoelhado em um genuflexórios laterais, dava-lhe uma bengalada nas pernas, fazendo com que o infeliz quase sujasse as calças de susto. Fazia isto, e saía rindo satisfeito pela peça pregada que era como um drible do Garrincha: sempre igual, mas sempre funcionava. agosto/2000
Giselle Thurm (ex-aluna de 1985)
Quando paro para pensar nos meus "anos dourados", meus 7 anos de Santo Inácio, a primeira coisa que vem a memória (talvez seja também um pouco de convencimento...) é de ter tido a maravilhosa oportunidade de participar de uma série tão especial que foi a que se formou no ano de 1985. embro-me de D.ª Gilda e do Zezinho, com seu apito e do "-Firme, cobrir!!!", que tínhamos que fazer todos os dias na entrada do colégio para entrarmos nas salas, andando enfileirados pelos corredores. Lembro-me do querido Savioli, que nos acompanhou até a formatura e que graças a ele essa série foi realmente especial! Quantas mudanças e reformas a gente pode vivenciar e aproveitar! Lembro-me do querido Padreco (Padre Carlos) que nos proporcionou momentos maravilhosos e inesquecíveis. Eu pertencia a "panelinha do Padreco", como era julgada por muitos (pode ter havido até uma certa razão, mas mesmo assim era uma "panelinha" aberta, da qual qualquer um que quisesse podia participar!). As missas do Padre Carlos em especial estão até hoje gravadas em minha memória - momentos emocionantes e de muita união. Lembro-me de vários professores: Cloves Dottori e sua letra perfeita no quadro negro; do Farias, que quase me fez repetir de ano !!!; do Chico Alencar e suas fas (não tenho o til no meu teclado); do querido Palhares e seus objetos voadores; do Robertão e seu modo de contar his(es)tórias; Villas-Boas e seus terríveis "testes relâmpagos" e assim por diante... Tudo faz parte de uma época que eu recordo com muito carinho e acho que pelo fato de morar no exterior me torna mais nostálgica ainda do que aqueles que moram "por perto" e têm a segurança de que, quando quiserem, os amigos e o colégio estão "logo ali", esperando de braços abertos. julho/2000
Santo Inácio do meu tempo...
Carlos Alexandre Sá (1959)
Recentemente entrevistei alguns colegas de turma. Comemorávamos com um jantar os quarenta anos de formatura de Colégio Santo Inácio, e me pediram que gravasse em vídeo algumas entrevistas de forma a reconstruir um pouco da vida do colégio naquela época. A todos os entrevistados eu perguntava qual tinha sido o professor que mais o havia marcado. Quase todos mencionaram o Prof. Jacques Chambriard. Era realmente uma figura extraordinária. Conhecíamos sua reputação muito antes de o termos como professor. Era francês; diziam que era doutor pela Sorbonne. Em matemática, tinha fama de sábio. Era severo, disciplinador; em sala de aula, não brincava. Lembro-me como se fosse ontem da primeira aula que tivemos com ele. Normalmente os professores não entravam na matéria logo na primeira aula. Nestas ocasiões, apresentavam-se, expunham o programa do curso, comentavam o livro texto, falavam da didática a ser empregada. Com o Prof. Jacques foi diferente. Tão logo terminou de fazer a chamada, começou a ditar com seu sotaque inconfundível: "Chamamos de prrrogrrresson arrritmética a uma seqüência de númerros...". Certa vez, em uma aula sobre logaritmos, antes que houvesse explicado o que eram a "mantissa" e a "característica", eu, olhar cravado na tábua de logaritmos, le-vantei o braço e perguntei: - Professor, o senhor não disse que o logaritmo de dez, na base dez, é um? Então, como é que aqui na tabela diz que é zero? A cena que se seguiu foi inesquecível. O Prof. Jacques atirou o giz no chão com violência; espalmou as mãos contra as têmporas; semicerrou os olhos; olhou para cima como se estivesse rogando aos céus que perdoassem tanta ignorância; em passos lentos, saiu da sala; voltou. Aterrado, eu percebia naquela coreografia o prenúncio de uma tempestade prestes a desabar, e que quando desabou, foi um cataclismo. Gritou, esbravejou, vociferou, disse que, em matemática, não errava. Encolhido no fundo da carteira, eu amaldiçoava o momento em que ousara desafiar o Prof. Jacques. Naquele mesmo dia, na hora do recreio, eu vinha andando ao longo do campo de futebol quando alguém, com evidente intenção de mexer comigo, disse em voz alta: "Professor, o senhor não disse...?". Virei-me, pronto para reagir, e lá estava o Prof. Jacques cercado de alunos, sorriso maroto, expressão de gozador, olhar doce e amigo. Compreendi então que toda aquela cena tinha tido como objetivo fixar um conceito matemático! (realmente, depois daquele dia nunca mais eu me esqueci da diferença entre uma mantissa e uma característica). Depois disto ficamos amigos. Sempre que nos encontrávamos, antes mesmo de nos cumprimentarmos, lá vinha ele: "Professor, o senhor não disse...?" E então, ríamos os dois. Na penúltima vez que nos falamos, me contou que estava morando com a filha em São Gonçalo, Niterói. Passava os dias "cuidando dos cachorros e das galinhas" e, de vez em quando, resolvia um ou outro problema de matemática para distrair-se. Ainda nos encontramos mais uma vez em um jantar de final de ano. Estava decepcionado e desgostoso. Não se conformava com a aposentadoria imposta. Prof. Jacques foi mais do que um professor, foi um mestre. Não se limitava a ensinar matemática, ensinava a raciocinar. Não bastava que a solução fosse correta, tinha que ser elegante. Lembro-me dele, diante de uma solução correta mas deselegante dada por um aluno a um problema, encostando a testa no quadro-negro e, esmurrando teatralmente a lousa, dizer: "Como açougueirrro, non! Como açougueirrro, non!". A paixão que despertou em nós pela matemática era de tal ordem que, naquela época, trocávamos problemas de álgebra, cálculo e geometria, como se fossem figurinhas. Prof. Jacques ajudou a moldar a estrutura mental de toda uma geração de alunos do Colégio Santo Inácio. A ele, toda nossa gratidão e a nossa saudade! junho/2000
1964. Colégio só de meninos. As turmas e séries se cruzam nos corredores nos horários de entrada, recreio e saída. Mais uma turma se forma... As turmas do admissão (5.ª série do Ensino Fundamental), em fila, passam pelos corredores com as professoras à frente. Os "marmanjos" do 3.° colegial (3.ª série do Ensino Médio) olham com inveja os alunos do admissão. Ricardo Saboia os olha duplamente triste: eles continuarão no CSI; eles tem uma professora muito bonitinha. Num momento de inspiração, Ricardo faz um sambinha. Os "marmanjos" logo se reúnem no recreio e a adotam como "a música da turma de economia". para Lúcia Maria Rodrigues Gonçalves
professora do admissão - 1964 Ricardo Saboya - ex-aluno de 1964 Professorinha Lá da minha escola Que passa sorrindo Mas não me dá bola Que toma conta do admissão
Quizera ser de menos idade
Mostrar inteligência, saber a lição
Vou desesperar
maio/2000
José Eduardo Ferreira Landim (1953)
Para começar, vou fazer um relato que está devidamente registrado no Anuário de 1947. Aliás, por que não o editam mais? Numa enquete sobre "de que mais gostou você no ano que passou", respondi: "Gostei de muita coisa... talvez fosse o dia que marquei meu primeiro gol ... e não foi contra! Em 1951, cursava o primeiro ano colegial [1.ª série do Ensino Médio] e estava péssimo em física. Já no primeiro semestre dava para ver que seria reprovado. O Mário Henrique Simonsen, considerado até hoje o melhor aluno da escola, meu amigo, cursava o segundo ano. Mas era lamentável nos esportes... Ele fez um trato sigiloso comigo: "Faço você passar de ano dando umas aulinhas de física e você me faz pegar uma vaga no time titular da II.ª1.ª." Assim, durante as férias de julho, ele ia a minha casa e depois da aula íamos a uma praça em frente jogar bola. - Não chute "de bico". Não olhe para a bola. Procure manter-se sempre equilibrado. O Mário, desajeitadamente, ia tentando obedecer às ordens, mas era um desastre. No fim das férias, ele também desanimado com o meu rendimento, sugeriu que eu me transferisse para o curso clássico, onde o curso de física era bem mais fácil que o do científico. - Tudo bem, Mário. Mas para você jogar no time principal da II.ª1.ª, só de goleiro. Na linha não vai dar. abr/2000
Roberto de Barros Benévolo (1947)
Prezado Prof. Paim Na condição de antigo-aluno do CSI, recebo suas correspondências, que bastante me interessam, e seus pedidos de histórias pessoais para preservação de memória. Até aqui vinha resistindo calado, sem a intenção de relatar uma de minhas histórias, porque destoaria de todas as outras que tenho visto, que só retratam coisas bonitas. Entretanto, resolvi reconsiderar e contá-la, mas pedindo bem examinar se vale a pena divulgar ou deixar no esquecimento. Sem pretender fazer suspense, digo-lhe que apesar de ter acontecido há mais de meio século, continuo pensando nela, para imaginar como teria sido minha vida caso não tivesse a sorte de neutralizar o efeito negativo. Estudei no CSI de 1940 a 1947, iniciando ainda no curso preparatório para o exame de admissão ao ginásio, e concluí o curso colegial (científico)[2.° grau/ensino médio] no ano letivo de 1947. Preparava-me para o vestibular de engenharia e tive a infelicidade de ficar para exame de segunda época [recuperação], em português. Naquele tempo, o português não era exigido para o vestibular de engenharia, sendo mesmo tácito que o vestibulando não precisava preocupar-se com a matéria. Antes do exame, o professor Luiz Viana (titular), conhecendo minha situação, disse-me que eu seria aprovado, porque não tinha cabimento fazer alguém perder um ano por matéria que nunca mais seria exigida. em currículo escolar. Assim, estudei menos do que devia, certo de que, já tinha passado de ano, e dediquei-me a estudar somente o que interessava para o vestibulatr. No dia do exame, a banca foi constituída pelo professor Luiz Viana e pelo padre Machado (não me recordo do seu primeiro nome), que tinha sido meu professor de religião e apologética em anos anteriores e que, certamente, não devia ter-me em boa conta. No exame escrito, o professor Luiz Viana me deu nota 5 e repetiu a mesma nota no exame oral, dizendo que, por ele, eu estava aprovado. Em seguida, o padre Machado, sem me examinar e apenas ouvindo o exame do professor Luiz Viana, me deu nota 1. Fiquei, portanto, reprovado em português no início de 1948, às vésperas de um vestibular para engenharia. Isto ocorreu pela manhã e diversos colegas, que estavam no CSI e souberam da reprovação, me aconselharam a procurar o padre Machado, pedindo sua reconsideração. Não aceitei o conselho, sabendo de que nada adiantaria. Voltei para casa reprovado e bastante revoltado pelo que eu - então nos meus 18 anos de idade - considerava uma grande injustiça. À tarde, com a cabeça mais fria, voltei ao CSI e procure o reitor padre Nacca (também não me lembro de seu primeiro nome), para pedir novo exame, devido à irregularidade. Ao constatar a veracidade de minha alegação, tanto com o professor Luiz Viana como com o padre Machado, o reitor padre Nacca marcou novo exeme oral, dentro de mais alguns dias. Mesmo estudando bastante, pensei que não seria aprovado, porque iria encontrar-me novamente com o padre Machado. No dia do exame, tive a surpresa de ser examinado pelo professor Luiz Viana e por outro examinador (cujo nome não me recordo), ficando o padre Machado de fora, porque não tinha habilitação para fazer parte de banca de português. Então, fui aprovado, terminei o curso colegial; fui aprovado no vestibular de 1948 da antiga Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasl [UFRJ]; concluí o curso de engenharia em 1952 e obtive razoável sucesso na vida profissional até 1982 quando me aposentei, depois de trabalhar para a Companhia Siderúrgica Nacional, diretamente ou por cessão, em Volta Redonda-RJ, Rio de Janeiro-RJ, Brasília-DF, Salvador-BA, Metz-França e Bruxelas-Bélgica. Hoje, vivo com minha mulher entre o Rio de Janeiro, São Paulo e esta Cidade [Corumbá], onde nasci em 1930, visitando mãe, filha, genro e netos, e nunca mais tive vontade de comparecer ao CSI, embora também tenha do mesmo diversas lembranças satisfatórias. Esqueci-me de contar que ao se tornar pública a anulação do meu exame, passei a ser conselheiro de outros companheiros reprovados ou prestes a serem reprovados, mas não me recordo se tive sucesso nas orientações que devo ter prestado. Ao terminar, encaro com naturalidade a observação de que, pelos erros gramaticais porventura cometidos acima, mais um ano de português teria sido em meu benefício. Nota: em 1947 o Reitor era o P.José Coelho de Souza SJ; P.Paulo Nacca era Prefeito Geral, cargo semelhante ao de Diretor Adjunto/Diretor Pedagógico mar/2000
Edvaldo Soares dos Santos Filho (ex-aluno de 1994)
Colégio Santo Inácio, nos conhecemos no início dos anos 80, mais precisamente em 1983, quando minha mãe me matriculou no CA [Curso de Alfabetização]; daí pra frente foi uma relação de respeito, amor e muita bagunça. Até hoje sou reconhecido por muitas pessoas que ainda trabalham no colégio, pois sempre fui muito querido por todos. Na minha trajetória, fiz muitos amigos e aprendi a conviver com todos. Nessa passagem de oito anos pela nação inaciana, não poderia esquecer de nomes como o do Prof. Eri, que foi meu coordenador durante todo o primário; do "tio" Mario, que me teve como atleta em todas as seleções de série; do "tio" Carlinhos, que brincava com as meninas; do Folia, Luiz Claudio, que substituiu o Mario. Sem injustiças, não esqueço o Nelson do esporte, pai do meu colega de turma Carlos Eduardo. Já no meu tempo de ginásio outras pessoas me marcaram, principalmente dois grandes amigos que fiz no CSI. Um deles é o Thomaz, inspetor, uma figura muito cativante e compreensiva, e o outro é o Amarildo, do audiovisual, uma pessoa sem comentários. Não posso esquecer o Merigueti, um cara, a princípio sério demais, que com o tempo se acostumou com a galera e se tornou descontraído e engraçado. Durante todos esses anos no Santo Inácio, participei de muito eventos sócio-culturais interessantes, como a Fesoi e o Arsoi. Mas nada me impressionou e ensinou tanto quanto as visitas a orfanatos e creches de crianças carentes. É um aprendizado enorme de solidariedade e humildade proporcionado pelo colégio. Recordo-me da vez quando a Vilma, do SOE, nos levou a creche do Dona Marta portando alimentos e brinquedos. A reação das crianças me fez chorar simplesmente por estar ali, sendo solidário a alguém. Lembro-me também das rifas que vendíamos e a turma vencedora era premiada com um fim de semana em Correas. Aliás, era muito bom ir para a casa de Correias porque jogávamos bola, nadávamos na piscina e, claro, aprontávamos das nossas. A turma 55, minha turma no ano de 1985, foi para Correas e o coordenador era o Malta. Estávamos na piscina quando combinamos: - Quando o Malta chegar, vamos jogá-lo na piscina ! Gritou Dudu, atiçando a galera. Dito e feito. O Malta foi chegando e sendo empurrado por aquela legião de pirralhos! Foi muito engraçado, pois o Malta era muito legal e levou tudo na esportiva. Mas estou cometendo uma injustiça: até agora não comentei nada sobre o maior e melhor professor que tive em toda a minha vida de estudante, o Luiz Mauro. Um amigo que me deu aula durante quatro anos, na sexta, sétima e oitava série do Santo Inácio e no primeiro ano do Colégio Andrews, onde fui estudar depois de repetir a oitava no Santo Inácio. Com o Luiz fui para Porto Seguro, para o Paraguai e para a Cidade da Criança, junto com Olavo, na época coordenador de série. Colégio Santo Inácio... aqui fui educado. Aprendi a me relacionar e principalmente aprendi a ser solidário e humilde, dois sentimentos nobres em um ser humano. Nada tenho a reclamar desta instituição. Tenho apenas a acrescentar meu sentimento por este colégio: "eu te amo, Santo Inácio!" fev/2000
Eduardo de Carvalho Chaves Neto (1992, advogado)
É uma iniciativa ímpar este projeto! Em um momento de grande instabilidade mundial e do Ser humano propriamente dito, oportunidades como esta de integração e recordação são imperdíveis. Nós membros do Núcleo devemos sempre incentivar e divulgar sua existência. Isto posto, gostaria de contar um fato ocorrido enquanto aluno inaciano. Gostaria de me reportar ao ano de 1982 para recordar a origem de apelido que me acompanha até hoje junto aos meus colegas de CSI: Pingo. Estava eu cursando a primeira série [primário/1.°grau] quando fomos para Correias em uma colônia de férias. Nesta ocasião, duas meninas (infelizmente não sei seus nomes) de séries superiores a minha me apelidaram de Pingo de Ouro, pois na época eu tinha cabelo liso e loiro. De volta às aulas, os participantes de tal colônia de férias passaram a me chamar por este apelido, inclusive o próprio Pe.Henrique, que também nos acompanhou, e todos os meus colegas da então turma 16 (de 1982), dentre os quais Corintho Falcão, Álvaro Xerém, Fernando Paladino, Rodrigo Castilho, Bruno Bastos. Com muitas gargalhadas, eles acharam que o apelido era perfeito. E para aumentar o "bafafá", havia na época um amendoim que se chamava justamente "Pingo de Ouro", o qual, por estas coincidências da vida, era o meu preferido e que eu comia em todos os recreios. Neste momento mágico fixou-se o apelido que, até durante meu curso de Direito na PUC-Rio, os inacianos como Pedro Amaral, Leonardo Murta Ribeiro, Daniel Andrade, Rodrigo T.Maciel, Fernanda Fiorito, entre outros colegas, propagavam a todos como se para perpetuar durante os tempos. Aproveito a ocasião para cumprimentar a todos os meus colegas de CSI que por força da vida não encontrei mais. |