NÚCLEO DE ANTIGOS-ALUNOS DO COLÉGIO SANTO INÁCIO
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    publicadas em 1999
    publicadas em 2000
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    publicadas em 2003
    publicadas em 2004
    publicadas em 2005



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março/2001
Pirão é um colaborador assíduo. Também graças a ele estão sendo preservadas “pessoas & fatos” do tempo dele como aluno.
São histórias que nos divertem e nos permitem recriar uma atmosfera, hábitos e atitudes, caracteristicamente inaciana.
Anteriormente Pirão enviara a crônica “Marimbondos de Chaves”, publicada no infoCSI n.° 61, de set/99.
No ano passado, um grupo de alunos a transformou num “sketch”, apresentado na programação comemorativa de mais um aniversário do CSI.
Agora, Pirão, ao enviar esta crônica, avisou: “vou discutir o milhão de dólares de direitos autorais que me devem”. E acrescenta: “da próxima vez, estou à disposição para uma sessão de autógrafos.”
É isso aí, Pirão!
Agradecemos!!!
Confissões
Carlos Alberto Pires de Castro, Pirão,
ex-aluno de 1969,
engenheiro

Bom, eu sinceramente não me lembro muito bem se a novena era a Comunhão ser recebida na primeira ou na última sexta-feira de cada mês.
Nesses dias tínhamos até um horário especial de aulas no Colégio. Creio que era um recreio maior e um período maior de estudo, com a Missa no final do dia escolar. Nos dias normais, eram dois períodos de estudo e dois de recreio.
O horário era modificado porque naquela época devíamos ficar três horas em jejum antes da Comunhão. Ou seja, poderíamos comungar somente três horas após aquele hamburger “colesteróico” com ginja-cola do bar do vovô.
Nestas ocasiões, as confissões podiam ser feitas durante a hora do estudo, à tarde. E a partir daí, todo mundo se cuidava para não falar qualquer tipo de imprecação até a hora da missa.
Hora da confissão! Sobre os confessionários estavam os nomes dos Padres que ministravam o sacramento: Padre Leme Lopes, Padre Gil e até Padre Chaves... bem, com este último, poucos se confessavam, com medo de tomar uma bronca e ficarem retidos...
Da sacristia surgia Padre Van Berger ... (ou Van Bergen ?).
Padre Van Berger era um santo homem. Acho que era belga. Foi missionário quando isso era pedreira e estava aposentado, residindo no Colégio. Como eu era pequeno na época, me parecia que ele devia medir quase 2 metros de altura, encurvados para a frente Provavelmente tinha por volta de 80 anos. Mas ainda ministrava confissões, com um confessionário personalizado. Era o primeiro à direita perto do altar de Nossa Senhora das Vitórias.
Entrava vagarosamente, quase claudicante, e atrás dele o acompanhava uma turba, sempre de uns 20 alunos, até mais, se estapiando e aos trancos para conseguirem melhores posições na fila que se formaria no confessionário.
À propósito, hoje em dia, quando vou à igreja do Colégio, percebo que a imagem da Nossa Senhora tendo o Menino Jesus no colo, traduz:
O Menino, olhando e apontando:
- Mãe, o que é aquela garotada insana, arrebatadora, ensandecida, vindo da sacristia e seguindo o pobre velhinho?
A Senhora, protegendo-o com os braços:
- Cuidado meu Filho, senão sobra até para a Gente.
Nesse ínterim, até Santo Antonio, do vitraux acima da porta, olhava de soslaio!
Podem conferir, pois parece isto mesmo. Toda vez, eu dou uma analisada.
Fila negociada, começavam as confissões com o Padre Van Bergen beijando a estola (era este o nome?).
Entrava o primeiro, ou seja, o que prevalecera na disputa.
- Padre perdoai-me porque pequei.
- Sim....
- Confessei-me na semana passada.
- Sim...
- Falei nomes...
- Hem???
- Falei nomes feios...
- HEMMM ???
- FALEI PALAVRÃO... PÔ!!!
- HEM!!! - ato contínuo, o Padre punha a mão em formato de concha na orelha.
Eis o mistério das disputas e querelas e de tanta popularidade: o Padre era meio SURDO !!!
À partir daí era só receber como resposta “- Sim, meu filho...”, e ao final “- Três Pai Nossos e três Ave Marias”.
Às vezes, acho que aleatoriamente, ele perguntava:
- Quantas vezes?
Entretanto já me contaram que numa ocasião, confessando um daqueles colegas, cruzado eucarístico, que usava meia três quartos, que levava toddy gelado na garrafa térmica para o lanche, o Padre, que estava meio ligado, esbravejou com um tremendo vozeirão e mão em concha na orelha:
- Hemmmm??? PUNH...???
No início da missa das sete da manhã aos domingos, Padre Henrique continua no primeiro confessionário, à esquerda, lá na frente. Alguém se arrisca? Tenho medo de ficar de corredor na hora do recreio...

maio/2001
O texto de Eduardo Augusto nos remete a um tempo do “colégio jovem”. Afinal, o que são 30 e poucos anos para um colégio que vai comemorar 100 em 2003?
Naquele tempo, o uniforme incluía quepe, dólmã, cinto largo, botões dourados, platinas etc etc.
E o texto faz referência a obrigatoriedades, sala de estudos dos menores, clausura etc etc.
Nem a fachada atual existia!!!
Mas é bom sentirmos a saudade, o carinho, a atenção e a gentileza do Eduardo Augusto de Brito e Cunha.

LEMBRANÇAS
Eduardo Augusto de Brito e Cunha estudou no CSI de 1933 a 1938

Entrei para o Colégio Santo Inácio em 1933.
Depois de 60 anos, sem nunca mais ter voltado, resolvi passar por lá, no dia 20 de janeiro de 1999, para assistir à Missa comemorativa do Dia de São Sebastião, padroeiro da Cidade do Rio de Janeiro. Missa esta que, na verdade, não participei muito, pois a maior parte do tempo meus olhos corriam por toda a Igreja matando as saudades dos tempos que não voltam mais. Tempos aqueles em que, quando rezava, era quase sempre pedindo para os Santos e Anjos me ajudarem a fazer uma boa prova.
Terminada a Santa Missa, resolvi visitar a sacristia, agora do lado esquerdo de quem olha para o altar-mór, e, pensativo, fui percorrendo aqueles imensos corredores onde tantas vezes passei.
Fui entrando como um cachorro que encontra a porta aberta, sem que esta imagem seja depreciativa desse animal, um amigo sincero do homem. Ao caminhar, depois de tanto tempo, quantas lembranças como a boa surpresa de me reconhecer naquele jovem de colarinho duro e gravata borboleta no quadro dos formandos de 1938.
Fui andando até a sala de estudo dos menores (assim eram chamadas as salas de estudos) que ficava nos fundos, do lado direito e, lá, num dos cantos, deparei-me com as carteiras onde nos sentávamos para assistir as aulas dadas por nossos prezados professores. Estavam todas amontoadas naquele canto, como assustadas pela minha presença depois de tantos anos de ausência. Se elas falassem, quantas histórias contariam!
Continuando a andar, subi aquelas largas escadas, tão gastas, percorrendo aquelas salas onde aprendi tantos ensinamentos.
No segundo andar, no corredor dos fundos, do lado esquerdo, quantas aulas de física e química dadas pelo Padre Theius.
No terceiro era a clausura dos padres. Ficava do lado direito, porque naquela época ainda não haviam sido realizadas as obras para fechar o quadrilátero do pátio. Era neste andar que, como Congregado Mariano, tendo como Diretor Espiritual o Padre Arlindo Vieira, participei de muitas Missas e de muitas reuniões, às quartas-feiras.
Todos os domingos éramos obrigados a participar da Missa das 8 horas, de uniforme branco e quepe. Somente por uma razão muito especial poderíamos faltar. Caso não comparecêssemos, éramos obrigados a levar justificativa assinada por nossos pais. Depois da Missa tínhamos, então, o café, na verdade chocolate, com uma fatia de pão e alguns biscoitos. Depois vinha a tradicional pelada.
Bons tempos...

julho/2001
Bruno Menescal é antigo-aluno da turma de 1947.
Arquiteto.
Ele é o autor do “O Gosto Salgado do Vento”*, da Razão Cultural Editora.
“O autor adotou uma técnica inteligente de alternar fatos concretos com textos de ficção, num bem urdido enredo que atrai e prende o leitor da primeira à última página. Essa estratégia de romancear acontecimentos biográficos faz da sua leitura um prazer suave e agradável”, como escreve Murilo Melo Filho, no Prefácio do livro.
É desse livro o texto abaixo.
Há outros episódios e comentários do autor sobre o “tempo do Santo Inácio”.
Um tempo que o autor deixa percebermos que foi bom, que deixou saudades, que o marcou.
Com uma observação feita na Apresentação: “Quero frizar, entretanto, que o roteiro, e só ele, tem a ver com o que se passou com minha família e comigo. Tive todavia o cuidado de romancear, divagar, criar e fantasiar, motivo pelo qual quem quer que seja pode se sentir fielmente retratado como personagem. Podem até ocorrer coincidências de nomes, locais ou fatos, porém nada de forma intencional e muito menos depreciativa.”
Agradecemos ao Bruno Menescal esta partilha.

* Menescal, Bruno. O gosto salgado do vento. Rio de Janeiro: Razão Cultural, 2000.

No intervalo entre aulas, demorou-se um pouco o professor seguinte. Rato Branco* ficou na vigilância mas, estranhando a demora, recomendando comportamento e silêncio, foi ver de que se tratava. Bastou isso para Zinho, simpático e brincalhão, engendrar uma brincadeira. O lustre alto e pesado que pendia no centro da sala, pendurado por corrente de um teto de quatro metros de pé direito, foi alcançado por um colega montado em outro, que subiu na carteira. Empurrado violentamente, o lustre passou a oscilar bastante de um lado a outro. O Zinho organizara a turma de dois lados de modo a que soprassem a dita luminária alternadamente, como se tal fosse a razão para o balançar tão violento daquela pesada peça. Eis que entra de surpresa Rato Branco, já acompanhado do professor de Português, o Vianinha, baixote e atarracado, e ambos vendo a cena preocupadíssimos, cada qual correu para uma das alas tentando interromper os sopros ritmados aos berros:
- Parem com isso, seus moleques, não estão vendo que vão derrubar o lustre! Vejam o prejuízo que vão acabar dando!
Não houvera tempo para raciocinarem à impossibilidade física do fato. Quanto a Rato Branco todos sabiam a causa, a sua conhecida ingenuidade, motivo dessa e muitas outras brincadeiras. É claro que a classe perdeu o recreio, em castigo, mas, se divertiram muito com o fato que ficou marcante no colégio, tanto que horas depois, em novo intervalo, lá entrava o barrigudo padre Almeida, batina especial para esconder o volume da pança, professor competente de Física e, diante de todos, silenciosa e demorada- mente, encarou o lustre já serenado e saiu sem dizer palavra. Nem o podia, pois tentara a todo custo esconder o riso, divertindo-se com a inteligente peraltice de seus alunos. Ponto para esses e zero para Rato Branco e Vianinha.
* N.R. Irmão jesuíta, que recebeu este apelido “pela sua batina já tão surrada tendendo a cinza, outrora preta e mais ainda coroada pelos cabelos já grizalhos. Era bastante benevolente e estimado. Boa e simples criatura de Deus.” cf explicado no próprio livro, em páginas anteriores.

setembro/2001
A Turma de 1961 está comemorando 40 anos de formatura.
Sergio Luiz Costa Rodrigues Corrêa, da turma, dispôs-se a recuperar o quadro de formatura.
E o fez.
Depois de um tempo em que um dos corredores do CSI “ficou vazio”, volta o quadro a ocupar o seu lugar.
Como novo.
Mas Sergio Corrêa recuperou também a “despedida” de Carlos Nelson Ferreira dos Santos, seu colega de “científico”.
E, recolocando o quadro no lugar, Sergio confidenciou: “Até hoje eu me emociono ao lê-la.”
Carlos Nelson profeticamente escreveu: “quando chegar o tempo das recordações/Então eu voltarei para devolvê-las.”
Sergio Luiz Costa Rodrigues Corrêa o está fazendo...

ANTES DE IR EMBORA
Carlos Nelson Ferreira dos Santos

Pelos corredores de arcos e sombras,
Passarei uma vez ainda, procurando...
Quero algo para levar comigo:
Que seja a última palavra ouvida,
Ou o despedir verde do vento nas palmeiras.
Olharei as salas, para sentir desde agora
O cansaço das outras salas, lá fora.
Pensarei sobre as sombras amigas das arcadas,
Onde encontrarei saudades se as procurar,
Mas não para vivê-las e sim para guardá-las.
Eu vou seguir pelo caminho que tantas vezes segui.
Porém vou vê-lo pela última vez.
Pois pela primeira vez também
Há um futuro a me esperar no término dos corredores.
Compreendo porque não estou triste: não há tempo.
Sairei apressado, minhas esperanças
Já estão a me chamar.
Mas penso ter tempo ainda para ficar em frente ao muro, lendo os avisos
Ou para lançar um olhar desinteressado
Aos velhos quadros de formaturas.
Ainda irei comprar uma coca-cola
E um pouco de prosa no bar do vovô,
E, de passagem, cumprimentarei o Prof. Vianna, com todo o respeito.
Completamente desembaraçado de sentimentalismo,
Pelo hábito de fazê-lo antes das grandes decisões,
Buscarei a Igreja e sua Paz de sono e seu Silêncio.
E tentarei interpretar, em oração, os anseios e dúvidas,
Pedindo sem lembrar de agradecimento.
Olharei para o Sto. Inácio, místico e dourado,
E, apesar da minha segurança quase descrente,
Vou sentir medo e vou rezar baixinho, envergonhado.
Se cruzar com P. Reitor na sacristia dar-lhe-ei um “Até logo”, desajeitado
Sem lembrar, talvez, que isto é tudo.
Ele é o professor, a classe, o colégio que ficam
E eu continuo, vou embora.
Depois... depois será andar pela rua,
Levando estas lembranças todas... para lermbrar mais tarde,
Quando chegar o tempo das recordações.
Então eu voltarei para devolvê-las.
in Colégio Santo Inácio - Anuário de 1961

dezembro/2001
A “lembrança” contada pelo Bruno Malburg (1969) não é, propriamente, ligada ao CSI.
Mas é uma lembrança de aluno. Ligada à formação familiar. Ligada à formação cristã do Colégio.
A memória do Bruno foi estimulada pela anedota do “mala men”.
E se você não a conhece, aqui vai:
“A professora pergunta ao Pedrinho: Pedrinho, do que você tem mais medo?
- Da mula-sem-cabeça, fessora.
- Mas Pedrinho, a mula-sem-cabeça não existe! É apenas uma lenda. Você não precisa ter medo.
- Mariazinha, do que você tem mais medo?
- Do saci-pererê, fessora.
- Mariazinha, o saci-pererê não existe, é apenas uma lenda. Você não precisa ter medo.
- Joãozinho, do que você tem mais medo?
- Do Mala Men, fessora.
- Mala Men? Nunca ouvi falar! Quem é esse tal de Mala Men?
- Quem é, eu também não sei, fessora, mas minha mãe quando reza de noite diz, “...livrai-nos do Mala Men!”

Bruno Malburg (1969) conta

“Quando eu era pequeno, toda noite, os pimpolhos já deitados, minha mãe rezava conosco. Era sempre um Pai Nosso (na época, com a missa em latim, chamado ainda de Padre Nosso), uma Ave-Maria e várias jaculatórias (usar esse termo hoje soa obsceno...).
Quando crescemos um pouco houve um “upgrade” com a introdução de uma Salve Rainha. Certa noite minha mãe, que sempre puxava a oração de seu quarto e nós respondíamos de nossas camas, estava mais próxima de mim quando recitei a segunda parte do Pai Nosso. Ela, então, me pediu para repetir a última frase. Foi aí que descobriu que, noite após noite, eu dizia “...e não nos deixeis cair do lotação, mas livrai-nos....”.
Minha mãe me corrigiu e eu expliquei: sempre via com admiração aquele pessoal, sempre homens, que saltavam com o lotação (não havia ônibus no Rio) ainda em movimento. Faziam isso para facilitar a vida do chauffeur (também não havia motoristas) que só dava uma reduzida (hoje “meia-trava”) e acelerava de novo. Como via vários que saíam às vezes “catando cavaco” e outros que quase davam de cara num poste estrategicamente colocado, me preocupava com um acidente. Por isso rezava toda noite para que o Pai nos livrasse a todos de uma queda.”

E Bruno acrescenta:

“A piada prova que não estou contando “cascata”. É a versão atual da coisa: na falta de lotações, e com a invasão do inglês, as crianças acham outros pontos interessantes nas orações (o Prof. Araújo diria cacófatos).”